A importância dos empreendimentos que objetivam reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) — os projetos verdes — é uma realidade sacramentada no cenário mundial. Para se ter uma ideia, entre janeiro e setembro foram investidos mais de US$ 175 bilhões em fontes de energia renovável (solar, eólica e outras) ao redor do planeta. Houve um crescimento de 16% em relação ao mesmo período de 2013.
No Brasil, o volume de financiamentos a iniciativas do tipo pelo mercado de capitais ainda é tímido. Algumas recebem instrumentos específicos e se viabilizam em decorrência de isenções fiscais, não da mentalidade do ambiente regulador e de negócios.
Já o “green bond”, título de dívida que financia projetos verdes, é consequência de um movimento vinculado à mentalidade em voga na Europa. Foi lançado há quase dez anos, quando instituições multilaterais (Banco Mundial e Banco Europeu de Investimento, por exemplo) assumiram o papel de fomentadores. Com o advento do volume, da liquidez e dos primeiros casos de sucesso, grandes corporações do setor energético, tais como GDF Suez e EDF, passaram a atuar nesse mercado. Na sequência, outras companhias encontraram espaço para emitir os títulos verdes; uma delas foi a Unilever. Do outro lado do balcão, a seguradora Zurich anunciou em julho que dobraria sua exposição aos green bonds, atingindo US$ 2 bilhões. As emissões do Velho Continente alcançaram US$ 17 bilhões até aquele mês, duas vezes mais que no ano passado inteiro. Pelo mundo, espera-se que essas emissões alcancem US$ 40 bilhões ao fim de 2014.
A análise do ambiente europeu permite extrair dois fatores de sucesso que poderiam ser incorporados na mentalidade e na estrutura do mercado brasileiro. O primeiro diz respeito ao modelo da participação de bancos públicos e de fomento. Em vez de apenas financiar diretamente projetos verdes com recursos governamentais, na Europa essas instituições emitiram green bonds para bancar os empreendimentos. Assim, desde o início elas criaram um mercado de dívida volumoso, com ótima qualidade creditícia e liquidez. No Brasil, BNDES, Banco do Brasil, Caixa, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia poderiam fazer esse papel. Seria interessante, ainda, estimular o ingresso de agências de fomento internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na emissão de “debêntures verdes”.
A outra vertente de êxito reside na estruturação de projetos com grau de investimento, para estimular a entrada de investidores de extrema relevância nesse mercado. É o caso das seguradoras (em agosto de 2014, por exemplo, a Brasilprev atingiu R$ 100 bilhões sob gestão). Isso diminuiria a dependência dos títulos verdes em relação aos fundos tradicionais e aumentaria a competição pelos bonds, com tendência a derrubar o custo da captação. A viabilidade poderia ser orquestrada por patrocinadores das iniciativas ambientais, agências reguladoras e bancos de fomento ou públicos.
A oferta de benefícios fiscais e o financiamento via bancos públicos têm sido os principais instrumentos de suporte aos projetos sustentáveis no Brasil, mas eles têm limitações. O desenvolvimento de uma mentalidade e uma estrutura pró-mercado poderia fazer companhias e investidores percorrerem um caminho natural, como na Europa. Eles dependeriam apenas de uma variável adicional: a existência de boas propostas, capazes de estimular gestores de recursos a investir.
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