Em julho de 1972, o regime militar encontrava-se no apogeu. A bolha especulativa que se desenvolvera nas bolsas no ano anterior desfazia-se lentamente com prejuízos gerais, contudo sem grandes traumas. A continuidade do movimento de queda, porém, trazia desconforto ao governo federal.
Marcello Leite Barbosa era o titular da maior corretora do Brasil à época e havia seis meses assumira, pela segunda vez, a presidência da Bolsa do Rio. A sede de sua empresa ocupava um edifício de 14 andares na Praça Pio X, em frente à Igreja da Candelária. A M. Marcello Leite Barbosa possuía 15 agências nas principais capitais do país e chegou a ter 1.400 empregados. Era uma potência financeira.
A casa veio a ser arruinada, no entanto, pelo aparato burocrático-militar que governava a nação. A ditadura perseguiu não apenas inimigos políticos como, também, aqueles considerados adversários na economia.
O presidente da Bolsa do Rio foi vítima de uma cilada. Convidado para um jantar com meia dúzia de empresários de alguma influência, embora decadentes, não percebeu que o encontro seria uma conspiração para a derrubada do poderoso ministro da Fazenda Delfim Netto. A reunião foi gravada por arapongas do famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI) e chegou ao conhecimento do ministério.
A reação foi imediata. Decidiu-se por liquidar a corretora — não pelos caminhos legais, pois ela estava com seus compromissos rigorosamente em dia, mas pelo exercício de absurdo assédio moral e intensa pressão fiscal. Logo a seguir desembarcou na empresa uma equipe com mais de 12 inspetores de diversas instituições: Banco Central, Ministério do Trabalho, Receita Federal, etc. Os resultados foram autos de infração e o lançamento de multas que somavam US$ 33 milhões. A acusação era de desvio de recursos da pessoa jurídica e de operações irregulares em bolsa efetuadas pelos dirigentes.
Coagido, Marcello Leite Barbosa renunciou à presidência da Bolsa, ainda naquele mês de julho. A corretora perdeu clientes, amigos e grande fatia de mercado, amargando sensível encolhimento de atividades. As pessoas tinham receio da perseguição pelo ministro todo-poderoso, que ninguém queria contrariar.
Os processos perduraram 12 anos e todas as alegações do Fisco foram derrubadas pelos advogados José Luiz Bulhões Pedreira e Antônio Fernando de Bulhões Carvalho, que defenderam a causa. Finalmente, foi pago um valor pífio, apenas para que a União não se desse por totalmente vencida.
O toque burlesco fica por conta da queda simultânea do presidente da Bolsa de São Paulo, João Osório de Oliveira Germano, que nada tinha a ver com o caso. Passava a ideia, entretanto, de uma faxina nas bolsas, o que, àquela altura, interessava muito ao governo.
Montagem sobre reprodução e imagens retiradas de www.senado.gov.br e www.nucleomemoria.org.br.
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